Primavera

Fazia algum tempo que pensava naquilo e decidiu, naquela manhã de domingo, início de setembro, procurar as sacolas com as quinquilharias que trazia das viagens. Foram várias e algumas em lugares inusitados, pra dizer o mínimo. De todas elas, alguma lembrança. Poderia ser uma carteira de cigarrro – sim, houve esse tempo – ou então guardanapos com algo escrito, tampinhas de refri, balas de coca, moedas e cédulas para uma coleção que nunca existiu, mapas, tickets de metrô, conchas, postais e até pequenas pedras de lugares distantes que provavelmente não voltaria a visitar. A ideia era mandar fazer quadros e compor com fotos cuidadosamente escolhidas, misturando com os objetos daquela aventura. Olhou tudo aquilo e ficou feliz. Quanta vida ali diante dele. Infinitos momentos. Lembranças maravilhosas. Uma vida inteira como dizem. Uma vida bem vivida.
.
A primavera se aproximava. Tempos mais coloridos pela frente? Pensou nas próximas viagens que faria e em todos os objetos que traria consigo. Manteria o ritual. E teve a certeza quando abriu todas as sacolas. Era o tempo na frente dele. Um tempo lindo pra caralho. Aquilo fazia parte dele. Talvez fosse o momento de construir os quadros. Talvez sem fotos, apenas com os objetos. Seriam relicários e contariam essa história toda.
.
A primavera era um bom momento para mexer naquilo e pensar na próxima viagem.
.
Dessa vez, sozinho.
.
Lembrou Beto Guedes.
.
“Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender”
.
.
.