Galeria Lunara – Usina do Gasômetro
Porto Alegre/RS, 2002
CENA 1/ GALERIA LUNARA/ INTERNA/ DIA
Uma sala escura, paredes pretas, no centro da sala, uma chaminé. LEANDRO, 37 anos, magro, cabelos castanhos, olha para o fundo da chaminé. Patrícia, morena, cabelos crespos, olha para Leandro.
LEANDRO
Patrícia, vou pegar uma cadeira lá embaixo. Fica aí.
PATRÍCIA
Tá bom.
Patrícia caminha ao redor da chaminé segurando-se nas grades.
Ao fundo da chaminé dois buracos um ao lado do outro.
A cabeça de Leandro atravessa o buraco.
LEANDRO
Patrícia, acho que não vou conseguir passar aqui.
PATRÍCIA
Lê, apóia as mãos, dá um impulso e senta.
Leandro apóia as mãos dentro da chaminé.
OUTRA PATRÍCIA (off)
Ele está nervoso. Será que eu recebi o e-mail?
Leandro senta ao lado do buraco.
LEANDRO
Tu não sabe como é aqui.
Leandro permanece agachado. Patrícia liga a câmara fotográfica.
PATRÍCIA
Lê, levanta, como é que eu vou te fotografar?
LEANDRO
Ai Patrícia. Tá bom, vou levantar.
OUTRA PATRÍCIA (off)
Vou fotografando enquanto ele se movimenta.
Leandro de pé entre os dois buracos.
LEANDRO
Patrícia, vamos fazer assim, vamos fotografar pelos 4 lados da chaminé.
PATRÍCIA
Acho legal, pois assim tu vai ter as quatro vistas e dá pra ti aproveitar as fotos e fazer uma sequência depois.
LEANDRO
Então, vamos lá.
CENA 2/ MONTAGE SEQUENCE/ INTERNA/ DIA
Leandro com braços estendidos ao lado do corpo.
Patrícia fotografa Leandro olhando pra cima.
Patrícia fotografa Leandro de perfil.
Patrícia fotografa Leandro de costas.
Patrícia fotografa Leandro de perfil.
Patrícia conversa com Leandro.
Leandro aponta para a câmara fotográfica.
Patrícia seleciona o menu da câmara.
Leandro faz nova pose.
Patrícia pega um disquete.
CENA 3/ GALERIA LUNARA/ INTERNA/ DIA
Leandro senta e sai pelo buraco da chaminé.
Patrícia senta-se no degrau e desliga a câmara.
Abre as portas do elevador e Leandro entra na Galeria.
Senta ao lado de Patrícia.
LEANDRO
E aí? Deixa eu ver.
Patrícia passa a câmara para Leandro. Leandro liga a câmara.
Patrícia separa os disquetes.
PATRÍCIA
Está mais ou menos na ordem e as sequências não estão completas.
LEANDRO
Ai, olha essa!
PATRÍCIA
Acho que as melhores são aquelas que eu te falei na hora.
LEANDRO
É essa! Olha.
Patrícia guarda os disquetes na bolsa e olha para a tela da câmara.
PATRÍCIA
Viu, eu te disse. Nesta imagem tu tá bem esticado e o mínimo que vemos do teu corpo é o teu rosto.
Ajuda nesse achatamento da perspectiva dada pela chaminé.
OUTRA PATRÍCIA (off)
Cinema é tudo! Eu respondi isso num e-mail.
LEANDRO
Eu tenho que pensar como é que vou esticar a imagem aqui em cima…
PATRÍCIA
E o tamanho da imagem tapando a chaminé, e , além de tapar, puxar todo aquele fundo que nós vemos só quando nos aproximamos dela.
LEANDRO
E não deixa de estar próximo daquela primeira ideia, de usar o chão vazado da galeria.
PATRÍCIA
E é ótimo, ou seja, está tudo num mesmo plano.
LEANDRO
Tu vai escrever o texto pra mim.
Os olhos de Patrícia sorriem.
CENA 4/ GALERIA LUNARA/ INTERNA/ NOITE
Toda a sala escura, burburinho de pessoas e uma imagem projetada na altura dos pés. Na imagem : Leandro no fundo da chaminé, compactado, prensado com a construção ao redor.
PATRÍCIA (off)
A tela de cinema tem duas dimensões. A chaminé virou suporte para uma tela de cinema. De onde provém a luz ? Do fogo. Não há mais fogo, mas a sala parece ter sido incendiada. Tudo preto e dois pequenos focos de luz, os buracos lá embaixo. Esperamos a projeção do filme: filme de apenas um fotograma.
FIM
*Patrícia Francisco é artista plástica