Felicidade
Porto Alegre/RS, 2010
“A finitude não se opõe à vida, ao contrário, complementa-a, dá-lhe sentido, coloca-lhe moldura. “ (1)
Morrer
Vamos morrer. Todos. Algum dia. Sem hora ou data marcada. Sem que possamos fazer nada para evitar que isso aconteça. Uma constatação óbvia, e por isso mesmo difícil de encarar. Morreremos. A aceitação desse fato, de que a vida é finita, deveria ser a razão maior para que vivêssemos intensamente, pois dessa forma, e, quando o fim chegasse, diríamos “valeu a pena cada dia, cada momento, cada dor, cada amor”, num fazer incessante de sermos cada vez mais aquilo em que acreditamos, livres de conceitos, regras, normas, “ismos”.
Amar
Não existe nada melhor do que amar. Não poderíamos viver sem o amor e só conseguiremos amar se nos amarmos também. Outra constatação óbvia, mas que custamos a entender e a praticar. O amor a si-próprio e ao outro. Não o amor que cobra, o amor que aprisiona, que quer apoderar-se, mas o amor que aceita, que compartilha, que não pede nada em troca. Tarefa difícil, mas necessária.
Amar os fatos da vida, sejam bons ou ruins e entender que tudo passa, e por isso mesmo, amá-la intensamente, como ela se apresenta. Mas amar agindo. Eis a diferença. Amar sabendo dos imprevistos e fazer de tudo para que mesmo com eles, tenhamos a consciência de que o amor é o instrumento mais poderoso e que nos motiva a fazer qualquer coisa.
Ser Feliz
Há dez anos escrevi um texto sobre a Felicidade. De forma resumida, eu escrevi que a Felicidade não existia. O que existe de fato são momentos felizes e não o seremos nunca se esperarmos por eles. Hoje percebo a clareza disso e também a extrema urgência de não esperar. É muito mais difícil agir, ir atrás daquilo que queremos, perceber que tudo é impermanente e que mudamos e morremos a cada minuto. Não somos mais os mesmos que éramos e essa é a grande novidade, o grande prazer.
Ser feliz é estar atento à vida e também perceber que precisamos escolher a cada instante e sermos responsáveis por nossas escolhas.
Foi por esse motivo que pensei a exposição Felicidade. Simplesmente por aceitar que eu também vou morrer, mas que desejo, ou seja, estou agindo intensamente para amar e ser feliz.
Posso morrer agora, escrevendo essas linhas. Mas também poderá ser daqui há 40, 50 anos, tendo em minhas mãos esse mesmo texto. Se assim for, estarei feliz por ter aproveitado essa verdade e com a certeza de que fiz o que estava ao meu alcance em todos os momentos da vida, porque a tratei com muito amor.
A arte me faz falar da vida e não vejo qual seria outro o seu sentido se não esse. Se realizo isso através da arte, vivo. Dessa forma sou feliz porque amo o que faço, sem esperar nada. Apenas sigo realizando e tendo a certeza de que quando morrer terei vivido intensamente.
* Algumas leituras que acompanharam
esse projeto e que gostaria de compartilhar:
“Água Viva”, Clarice Lispector
“A vida como ela é, para cada um de nós: em busca
do eu-caleidoscópio, Denise Aerts, Christiane Ganzo
A Felicidade, desesperadamente, André Comte-Sponville
A vida humana, André Comte-Sponville
Para que serve tudo isso? A Filosofia e o sentido da vida,
de Platão a Monty Python, Julian Baggini
Nas minhas palavras, Dalai Lama, uma introdução à filosofia
do mestre budista Editado por Rajiv Mehrotra – Tradução Joel Macedo
O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, Sogyal Rinpoche
Alquimia Emocional, a mente pode curar o coração, Tara Bennet-Goleman
(1) Aerts, Denise. Curação: a arte do bem cuidar-se.
Denise Aerts, Christiane Ganzo – Porto Alegre: [s.n], 2009.