Receitas
Receitas
Na vida de solteiro o jantar sobra para o almoço e às vezes até para o próximo jantar. Jogar comida fora é algo impensável. E foi ao servir-se do strogonoff da noite anterior que olhou para o prato e a imagem que veio à lembrança foi a de um dos seus pratos favoritos: risoto. Veio também a constatação de que não era ele quem fazia o prato. Não tinha paciência para ficar na beira do fogão regando o arroz com o caldo de legumes. Que bela lembrança.
Eles gostavam de cozinhar e todo o ritual que isso envolvia. Trocavam as lidas do fogão e alguns pratos eram especialidades individuais. Na lembrança do risoto, olhando para o prato com o strogonoff, pensou que poderia ter aprendido a fazer, mas tinha aquele gosto especial de esperar, conversar, ser servido e elogiar sempre daquele jeito exagerado: “é o melhor risoto que tu já fizeste até hoje”.
Comeu devagar pra não misturar os gostos em sua cabeça. O strogonoff estava delicioso, mesmo sendo da noite anterior. Lembrou inclusive da noite anterior. Estava sozinho, curtindo cada momento da preparação do prato, escutando música e dançando com ele mesmo ou com a cachorra.
Da próxima vez tentaria fazer a receita do risoto que mais gostava e que viu tantas vezes ser feita: tomates secos e alho-poró acompanhado de um vinho tinto e de sua própria companhia.
Cozinhar é um gesto de amor e pode ser sobre amor próprio também.